domingo, 9 de julho de 2017

Sótão

Sótão 


Não sobrará mais nada
Nem sombras, nem saídas
Tampouco almas penadas.

Memórias do teu sorriso
Não mais me trarão calma
Ou aquela sensação doce de paraíso.


Seguiremos distantes, cada um o seu caminho.
Não há mais o que partilhar
Senão a dura sensação de estarmos sozinhos.



Fomos vizinhos um dia
E escrevi-te um poema singular.
Eramos vizinhos de almas e tínhamos as mesmas coisas para amar.


Haviam borboletas quando tudo era jardim
No meio da praça a palavra amor se lia do impossível
Girassóis voavam alegres de noite dentro de mim


Agora não sobrou nada que não seja o vazio
A sensação de abandono e de desespero
Que eu encontro num coração que tornou-se um sótão frio.

Fidélgio A. Januário

In: Poesias de Rua








sábado, 8 de julho de 2017

Madrugada


Madrugada




O conforto da madrugada me ajuda a ser eu
Não há crianças correndo
Nem prostitutas pousando de estames de um androceu.

No inverno tenho vontade de correr na rua
Descalço até sangrar
Ou até ganhar asas e voar para a lua.

As vezes tenho vontade de fugir
E pedir a Deus
Que chegue a noite que nunca mais irá partir.

A madrugada me tranquiliza
Acalma meu coração
E aqui dentro tudo se ameniza.
Sombras de um amor que a noite não pode apagar

Não há mais problemas, tampouco desconcerto
O mundo dorme
E só então ele é perfeito.

Aí tenho tempo para ser eu
Santo de todos os deuses
Herói de todos os pagãos.
Amante de todas as prostitutas
Crítico de prostituição.

De madrugada sou um deus
Igual na diferença
E diferente na igualdade.

O conforto da madrugada me ajuda a ser eu
Não há corruptos morrendo
Nem prostitutas pousando de estames de um androceu.


Russell Crowns
In: Os olhos da loucura

Sarau de poesia improvisado no coreto do jardim botânico em Maputo
(Ndlhelene declamando/ Explosive Man na guitarra)